Lembro que em Araraquara eu tinha um professor argentino, Luis Fernando Ayerbe, acho que ele era meu professor de "História 2". No final do meu segundo ano eu tinha que fazer um trabalho da disciplina dele e como ele não era um professor muito exigente eu pretendia fazer um trabalho picareta. Entretanto, minha consciência me obrigou a passar um dia na biblioteca pesquisando e numa dessas eu procurei um livro do Ayerbe (a propósito, ele escreveu vários - inclusive um sobre a Revolução Cubana), logo no primeiro livro eu vi que ele dededicava sua obra para a irmã Patrícia Ayerbe. Não, ele não era próximo da irmã... Na verdade, ele dedicava o livro à memória dela que desapareceu sob as sombras da ditadura argentina. Se bem me lembro, ela desapareceu um ano antes d'eu nascer. Lembro também que não consegui ir além da dedicatória do livro...
Acho que foi a primeira vez que pensei sobre a proximidade do Terror com a vida cotidiana, como o Mal se faz presente em nossas vidas também como ausência... No caso do professor, como a falta de um ente querido cujo fim desconhecido impediu ele e os seus até mesmo de enlutarem o corpo. Até então eu não imaginava, eu não poderia saber. A leitura daquela simples dedicatória afetou profundamente minha percepção da realidade.
Não lembro do trabalho que eu fiz, mas sei que uma das impressões mais fortes que um professor deixou em mim foi indiretamente e sem querer.