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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Reminiscência de Araraquara

Lembro que em Araraquara eu tinha um professor argentino, Luis Fernando Ayerbe, acho que ele era meu professor de "História 2". No final do meu segundo ano eu tinha que fazer um trabalho da disciplina dele e como ele não era um professor muito exigente eu pretendia fazer um trabalho picareta. Entretanto, minha consciência me obrigou a passar um dia na biblioteca pesquisando e numa dessas eu procurei um livro do Ayerbe (a propósito, ele escreveu vários - inclusive um sobre a Revolução Cubana), logo no primeiro livro eu vi que ele dededicava sua obra para a irmã Patrícia Ayerbe. Não, ele não era próximo da irmã... Na verdade, ele dedicava o livro à memória dela que desapareceu sob as sombras da ditadura argentina. Se bem me lembro, ela desapareceu um ano antes d'eu nascer. Lembro também que não consegui ir além da dedicatória do livro... 
Acho que foi a primeira vez que pensei sobre a proximidade do Terror com a vida cotidiana, como o Mal se faz presente em nossas vidas também como ausência... No caso do professor, como a falta de um ente querido cujo fim desconhecido impediu ele e os seus até mesmo de enlutarem o corpo. Até então eu não imaginava, eu não poderia saber. A leitura daquela simples dedicatória afetou profundamente minha percepção da realidade.
Não lembro do trabalho que eu fiz, mas sei que uma das impressões mais fortes que um professor deixou em mim foi indiretamente e sem querer.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Visões do porvir...

Fome, miséria, tortura e guerras... Agora mesmo soldados tunisianos agem contra seu próprio povo. Massacres, extermínios, genocídios... A imaginação humana sempre se supera em novas formas brutais de violência contra o próximo. Exploração econômica, exploração sexual, exploração religiosa, exploração em sua mais diversas possibilidades. E o medo... O medo do Cigano, o medo do Judeu, o medo do Pobre, o medo do Gay, o medo do presente e tudo isso se voltando contra nós neste único instante. A angústia do cárcere, a solidão habitual, a alienação de uma vida administrada... A angústia do cárcere. Meu sorriso se dissipa na promessa dos primeiros raios deste amanhã brutal "mais noite que a noite". Contudo amigos, Ela existe... Ela existe!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

...

Não existe sentimento mais mesquinho do que o amor... De repente vc se pega pensando nela, na maneira como ela sorri, no modo como ela olha... Na maneira como o cabelo dela dança quando o rosto dela se move, no movimento de encontro que suas coxas fazem quando ela caminha ou então a expressão dela ao não entender sua piada. E todas essas reminiscências fazem vc se sentir vivo ou até mesmo humano, mesmo que isso faça vc se sentir um lixo consigo mesmo por achar absurdo ser grato a uma mulher pelo simples fato dela existir.

domingo, 10 de julho de 2011

Sobre um certo sonho...

Esta noite eu tive um sonho. E eu não costumo ter sonhos, bons pelo menos.
Era um daqueles sonhos que dá vontade de voltar a dormir só para voltar para ele - sei que a idéia é vulgar mas no momento não me occorre nada melhor, desculpem.
Não sonhei com sexo ou algum tipo de amor , nem mesmo sonhei com alguma pessoa querida. Eu simplesmente sonhei com uma viagem...
Era uma viagem longa, eu estava em um trem que ia de um lugar que eu não fazia idéia para outro que eu nem sequer imaginava. Muitas vezes tal desconhecimento sobre nosso destino nos leva ao desespero pois estar em um lugar que não se deseja e cuja finalidade se ignora é o máximo de nossa alienação, a alienação existencial. Quando a vida gira sem sentido em volta de outras vidas, idéias e processos e relações igualmente sem sentido é quando nossa vida perdeu todo o encantamento - normalmente é quando, uma pessoa honesta e com alguma profundidade, se indaga se ela está realmente viva.
Mas onde eu estava mesmo? Ah sim... A viagem.
O curioso é que eu desejava estar ali naquele trem. Não rumo ao nada, mas indo de encontro a algo que desconhecia completamente e isso me dava uma sensação semelhante a felicidade.
A cadência das rodas nos trilhos ainda agora me parecem o ritmo de alguma música cuja desarmonia fantástica é acompanhada por vários idiomas e sotaques. Seria este um dos sons da liberdade?
Vejo todos estes rostos e não os reconheço. Entretanto, todos riem para mim e eu para eles - todos parecem partilhar de meu contentamento.
Estou em uma janela e observo a noite cujo riso se faz notar no crepúsculo. Um dos mais belos flertes que já tive e foi apenas um sonho...
Lástima! Não lembro de outro sonho tão bom e não consigo lembrar de nada além de fragmentos e impressões...

Devo esclarecer que este sonho não surgiu do nada. Ele apenas ensaia meu desejo antigo de partida. Não de sumir que é fuga e desistência, mas de ir embora que é desejo positivo por novas experiências...  Às vezes digo para mim como bom seria caminhar até encontrar ouvidos que não entendessem minha língua, como seria maravilhoso esquecê-la... E depois lembrá-la e recompô-la a partir de outras línguas, de outras vidas...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Aforismo, frase de efeito ou twitt mesmo?

Em tempos de total passividade e apatia qualquer ação é de vanguarda. Embora despreze a idéia vanguardista, agir é preciso.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ponderando...

Faz umas 3 semanas que comecei com essa história de blog. Comecei com isso para compartilhar coisas que penso, guardo ou escrevo mas até agora é como escrever em meu canto em casa, a única diferença parece ser a possiblidade de dividir isso com meus amigos enviando o link.
Nada de substancialmente diferente da solidão habitual de minha escrita. Nem a porra de um comentário...
Não que meus amigos não o façam.
Hoje mesmo uma velha amiga perguntou porque eu não tentava ganhar dinheiro com o que escrevo. Putz... Seria genial se eu pudesse ganhar um centavo por cada besteira que falo ou escrevo, eu seria eleito o homem do ano pela Forbes. Porém, infelizmente, as pessoas não enlouqueceram a esse ponto.
Essa amiga também me disse que era pós-moderno de minha parte ter um blog. Foi ofensivo, eu sei. Mas eu relevo, tenho esperanças de transar com ela um dia.
Falando em sexo, o melhor elogio que recebi em relação ao blog foi de um amigo que após ler os poemetos sacanas disse que não os entendia, mas que se fosse uma mulher namoraria comigo. Fiquei lisonjeado, se ele fosse uma mulher seria a das mais safadas.
Entretanto, a isto se resume o saldo de 3 semanas de trabalho árduo em um blog.
To de sacanagem, não me custa nada incomodar meus amigos com isso. Por enquanto vem dando certo, então eu o mantenho.

A procura de poesia

Certa vez eu caminhava pelo centro de Ribeirão. Calor, ar seco, cansaço e sede. Abandono a multidão apressada do calçadão e tomo o caminho da (biblioteca) Altino Arantes.
Recolhido em uma mesa me recupero com uma garrafa d'água e um livro de Baudelaire.
Não passa muito tempo que estou ali e senta um homem do outro lado da mesa. Decerto não notou minha indisposição, e minha consequente irritação, pois logo me interrompe:
- Eu não sabia que eles tinham livros de Baudelaire aqui.
- Eles têm. Mas este é meu. Digo sem fingir simpatia.
- Ah! Eu entendo um pouco de Baudelaire. Eu fiz alguns trabalhos sobre ele na faculdade. Aliás considero o primeiro dos modernos um dos maiores críticos do nosso tempo.
Abaixo um pouco o livro para olhar com mais atenção para tal figura. Juro que o reconheço, não tanto pela fisionomia meio extravagante como pela sonoridade pernóstica de suas palavras. Em minha graduação eu era rodeado por por coisas do tipo. E com a familiaridade de um velho conhecido eu digo:
-Aposto que sim, sua disposição demonstra bem isso.
Com um contentamento extraordinário a figura se põe a discorrer sobre o maldito poeta e a relação dele com a modernidade, com a Paris spleenática e sobre si mesmo, evidentemente. Sem notar minha expressão estupefata ele discorre em longos, e intermináveis, minutos, absorto que estava em falar de suas preciosas impressões e de sua notável compreensão da poética melancólica e repleta de ironia do tal francês. Ainda não contente com sua palestra anterior e embriagado pelo som de sua própria voz ele tenta me ensinar sobre a urbanização de Paris vista sob a ótica de Baudelaire (citou os macadames!), além de tentar me convencer da existência de um Baudelaire apiedado com a miséria da massa (!) na grande metrópole.
Por fim, meu velho colega termina sua explanação com uma expressão francesa que não consegui distinguir e arremata com a seguinte frase:
- Como um sociólogo ele compreende o espírito do seu tempo e perscruta a alma de sua gente.
Eu não consigo esquecer desta frase. Ele realmente usou a palavra perscruta.
Ainda cansado pela caminhada ao ar seco, não consigo disfarçar minha irritação e levanto num sobressalto.
- Puta que pariu, poucas veze ouvi tanta baboseira. Você pode ter lido, como bem mostra suas palavras, As Flores do Mal e o Spleen de Paris mas dai dizer que vc entende de Baudelaire é uma grande bobagem. Você pode entender de semiótica, sociologia e qualquer ciência do tipo mas não venha você me falar que compreende poesia.
Sob o olhar atônito de outros leitores eu me retiro do local, mas não sem antes arremessar minha garrafa, já vazia, na testa do desgraçado.
Talvez ele tenha me pegado num dia ruim ou então eu estava em meus melhores momentos e resposta melhor não existiria. Ainda assim, eu poderia ter jogado o livro. Contudo, apesar de seus leitores, eu aprecio muito Baudelaire.