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sábado, 11 de setembro de 2010

Segunda tentativa....

Crepusculário
Observe o cair de uma tarde, no qual o sol poente estende braços e longos dedos sobre a noite que chega. E avançando sobre o céu, como se retribuísse o toque tímido do dia, a escuridão prossegue envolvendo-o em suas crinas.
Repare no acanhamento das nuvens, vermelhas ante o espetáculo.
Entre os cachos negros e as mãos luminosas existe uma escala infinitesimal compreendida em instantes e cores. Mas perceba que algo foge da imaginação comum sobre um entardecer: entre toda a fração de tons e espaços existe um momento em que ambos se confundem.
Olhe, é um instante em azul difuso, profundo... Fronteiras se apagam sob este fabuloso tom crepuscular e já não se sabe mais onde começa a noite e onde termina o dia. Instante de suprema volúpia e revelação, como se o dia pudesse agarrar a noite pelos cabelos e arrastá-la até o horizonte. É um momento apenas e, no entanto, tal enlace parece alcançar a eternidade nesse único instante.
Considere agora que tal fenômeno parece imitar o modo como meus braços envolvem tua cintura no momento em que te ofereço trono e devoção. É também o momento em que, sentada sobre minhas coxas, sussurra palavras baixas e nomes feios e ri feito menina do desespero com que minha boca sorve teus seios.
Sinto-me preso a um cometa nesse instante em que crava teus dedos em meus ombros e nuca e me chama para junto de si, levando-me consigo. É o momento em que o desespero é todo seu... Instante em que seu riso se torna múltiplo e se comunica apenas por espasmos, ais e soluços.
Por toda essa constelação tecida em suor e perfumes místicos se percebe um espaço de sombras formado pelos golpes de sua carne na minha. Esse é o instante em que também ignoro onde começo e como termino. Mas sei que, de alguma forma, ainda estou aqui...  Agarrado a algum lugar entre seus pés e seus cabelos.
E mesmo sabendo que a unidade absoluta é impossível, estou satisfeito em saber que partilhamos o mesmo destino. Essa dança infinita que se desdobra, uma vez após outra, em materializações de sonhos e instantes eternos.
Afinal, não seriam teus lábios atados aos meus o verdadeiro milagre de um crepúsculo?

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